Biosfera em Conversa: Paulo Silveira, Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge
A nossa primeira convidada desta rubrica – a Presidente do Comité nacional MaB da UNESCO, Anabela Trindade – afirmou que uma Reserva da Biosfera é um laboratório ao ar livre, um espaço de aprendizagem aberto a todos. O que é, para si, uma Reserva da Biosfera?
A Reserva da Biosfera, é um estatuto atribuído pela UNESCO, relativamente a certas áreas protegidas, sejam elas terrestres ou marinhas, com características únicas nas relações entre o espaço e as gentes onde se procura empregar meios que permitam a preservação do meio existente e o seu desenvolvimento assente num uso sustentável.
Qual é o seu local preferido nesta Reserva da Biosfera e porquê?
Tenho muita dificuldade em lhe responder a essa pergunta, porque a Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge é um puzzle de paisagens, cores, sensações e sentimentos. Suprimir uma peça, deixa este mesmo puzzle incompleto. Posso, no entanto, destacar aqui a Fajã da Caldeira de Santo Cristo, pela sua singularidade, que faz deste lugar um dos lugares mais visitados na Ilha de São Jorge, com características únicas que vão desde o seu trilho pedestre, ao seu enquadramento geomorfológico, ao seu sistema lagunar costeiro e ao equilíbrio entre o Homem e a natureza.
Quais as mais-valias e os maiores desafios de trabalhar na gestão destes territórios?
As mais-valias destes territórios classificados como reservas da biosfera, são sem dúvida nenhuma as suas gentes e seu património cultural que detêm, os seus ecossistemas que levaram à criação de áreas protegidas e às sinergias que estabelecem entre si, que de resto são aspetos transversais de outras reservas da Biosfera e que levaram à sua classificação pela UNESCO, mas cada uma apresenta características únicas e inigualáveis.
Para gerir estes territórios, os desafios são imensos e são colocados dia a dia. Garantir a preservação e especificidades destes territórios e ao mesmo tempo proporcionar um desenvolvimento sustentável do território e da população, envolve um grande esforço de todos, desde os atores locais até aos decisores políticos.
Acha que a população residente e visitantes podem ter um papel no trabalho de conservação e sustentabilidade que levam a cabo? Como?
Os esforços de conservação dum território com vista à sua sustentabilidade só podem ser bem-sucedidos se envolverem a população residente e quem visita esse mesmo território. O território é moldado pela natureza e pelo Homem, sendo que os residentes, conhecem e sentem as especificidades do seu território como ninguém. Os residentes são os guardiões das heranças culturais dos seus antepassados e pesa sobre eles o legado de as passar às gerações vindouras, fazendo com que perdure essa riqueza cultural e patrimonial e que possa ser capitalizada na melhoria das condições vida da população residente assentando num desenvolvimento sustentável. Cabe à população residente, aos seus agentes locais e decisores políticos a definição de medidas e linhas de ação de forma a criar novas oportunidades. Os visitantes têm um papel fundamental no trabalho de conservação e sustentabilidade, uma vez que ao respeitarem os locais que visitam, não só levam consigo um enriquecimento pessoal e intransmissível como também funcionam como drivers contribuindo de forma fundamental para a economia local e para a divulgação das áreas e dos territórios que visitam.
Por fim, gostaríamos que partilhasse connosco os projetos e iniciativas, em marcha e de futuro, na sua Reserva da Biosfera. E como os poderemos acompanhar, estejamos por perto ou à distância.
A Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge é a mais recente das 4 reservas da biosfera dos Açores, tendo a sua candidatura sido aprovada em 2016. A partir daí foi criado o Conselho de Gestão da Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge, tendo-se iniciado diversas ações relacionadas com a conservação, desenvolvimento económico e humano e apoio logístico, os três eixos definidos pela UNESCO, que culminou em 2020 com a regulamentação do plano de ação da Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge.
Das 156 ações previstas no Plano de Ação da Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge, contamos com cerca de 55 concluídas e/ou em execução, sendo que a grande maioria delas se relaciona com a conservação, nomeadamente recuperação de habitats, controlo e irradicação de espécies invasoras, participação em diversos censos relacionados com a fauna endémica e monitorização de flora.
Ao mesmo tempo, estamos envolvidos em três projetos comunitários: LIFE VIDALIA, LIFE AZORES IP NATURA e LIFE IP CLIMAZ relacionados com a conservação e recuperação de ecossistemas.
Estamos em processo de reavaliação da atribuição da marca Reserva da Biosfera Açores, às diversas empresas que o solicitam. Estamos a colaborar com o projeto nacional das Reservas da Biosfera Portuguesas “Territórios Sustentáveis, Comunidades Resilientes” com os diversos parceiros do projeto assim como com os restantes parceiros das Reservas da Biosfera dos Açores, nomeadamente: Corvo, Graciosa e Flores.
Estão previstas a realização de atividades espelho no âmbito do festival Reservas da Biosfera planeado para 2023.
As notícias sobre a Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge podem ser acompanhadas no portal da Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas relativo aos Parques Naturais dos Açores, nomeadamente no Parque Natural de São Jorge no site: https://parquesnaturais.azores.gov.pt/pt/